09/12/2015
(Sobre deixar partir)
Desapego.
É quase rotineiro o drama que se desenrola após o fim de um
relacionamento. Os choros, olhos vermelhos, faces abatidas, noites
insones. E a mesma pergunta, diferindo apenas em forma, a martelar a
mente dos desafortunados: por quê?
Por
que me deixou? Eu era um bom namorado. Por que partiu? Eu o amava
tanto. Por que me traiu? Eu sempre fui fiel. Por que o relacionamento se
desgastou? Eu não me esforcei o bastante? “Por quê?”, Por que COMIGO?
A
grama do vizinho é sempre mais verde e sua dor, mais amena. Quando se
trata do outro, tudo é simples, bobo. Sabemos sempre o que dizer, o que
faríamos em seu lugar. É só uma questão de atitude. “Vamos, engula o
choro, levante-se, a vida segue”. O furacão, visto de longe, chega a ser
belo.
Mas
é no olho do furacão que os ventos rasgam a carne, partem os ossos e
cria-se uma região de vácuo, um vazio silente e incômodo, grande mais
para ser preenchido com festas, álcool ou companhias efêmeras; mas
pequeno o bastante para se levar no peito.
Vai-se a bares, tomam-se porres, conhece-se um sem-fim de novas pessoas e o vazio permanece impreenchido. “Por quê?”.
Outros
lábios serão os dele, outros corpos e tocará a ela. Não importa quantos
outros perfumes, será sempre o odor daquele perfume a impregnar os
travesseiros pela manhã.
Tantos outros sorrisos te lembrarão o dela, muitos outros abraços te lembrarão o dele. "Por quê?”. A pergunta insistente martela nos ouvidos e o relacionamento findo paira fantasmagórico a assombrar os dias e noites.
O
vazio permanecerá no peito, como um buraco negro a tragar tudo em busca
de algo que o possa preencher. “Por quê?”. Respostas. Respostas são a
única coisa que podem fechar a ferida.
Ocorre
que as respostas, por vezes, têm um sabor muito amargo, pelo que se
foge delas. Nalgumas vezes se possui as respostas, mas estão
atravessadas na garganta, intragáveis. Precisa-se de algo para ajudar a
engolir: Aceitação. Também não é saborosa.
[...]
05/02/2016
Aceitar
que acabou, que os dias partilhados se foram, que os risos, os abraços
(e as brigas), se encontram irremediavelmente no passado, é como aceitar
que o tempo investido na relação foi desperdiçado, que os esforços
empreendidos em prol do relacionamento foram em vão.
Desapegar
equivale a seguir em frente, sem ignorar o passado e o peso das
experiências nele contidas, mas tendo os olhos voltados para a frente,
para que não (...).
Aquele
que viaja olhando para trás, apenas pode ver as paisagens deixadas para
trás, as oportunidades já perdidas, e se apega a tudo que poderia ter
sido se houvesse antecipado aqueles campos, mas sem nunca voltar seu
olhar para o caminho adiante.
Rhuan M.